sábado, abril 02, 2011

O que não somos!

Seguirei por eliminação. Vou contar a vocês o que o bolinha de mequeijão não é. Lá pelas tantas descubro o que ele afetivamente é. O engraçado é que meus amigos dizem que este post que agora escrevo deveria ter sido o primeiro; de pronto eu teria que dizer o que queria fazer com um blog. Fato é que descubro as coisas muito lentamente. Acho mesmo que amo processos mais estendidos no tempo, sei bem que isso é mal visto em alguns setores de nossa sociedade... Paciência, não dá para agradar a todos. Vou devagarzinho descobrindo o que quero com a vida, e o que a vida vai querer de mim.
            O bolinha não é um blog de gastronomia refinada/chique (no pior sentido desses termos).  Nada contra, mas aqui evitaremos os jargões da área, também não utilizaremos ingredientes raros, aqueles quase impossíveis aos pobres mortais. Na medida do possível explicaremos os detalhes, mostraremos os cortes de maneira bem simples, tudo com muito carinho.
             Portanto, se você adora caviar retirado do Esturjão nos seus últimos quinze minutos de vida, desista! Aqui não terás a boa sorte de encontrá-lo... Também não utilizaremos o mais caro e sofisticado açafrão do mundo; aquele dourado, com um perfume único, com preço equivalente ou superior a grama do ouro, cultivados no Marrocos ou na Espanha... Um potinho de supermercado com a especiaria resolve bem nossos desejos gustativos.
            É isso: por mais deliciosas que sejam essas iguarias (disso, não duvido!), o bolinha não vai priorizá-las. Não é por nada, mas minha avó, Laura Lira (I post  -  Sobre menina e avó), nem sonhava com tais ingredientes, muito provavelmente não agradaria seu paladar agrestino. Era uma pessoa muito simples, gostava mesmo de coisas prosaicas, cotidianas. Ir à feira de orgânicos bem cedinho era um de seus rituais mais cultuados: cenourinha, couve e banana, seus favoritos.
            Outro dia me escreveram perguntando se o blog ensinaria aos leitores a arte da culinária... Perguntei-me abismada se existia curso para isso? A formação deve ser em gastronomia e lógico que a culinária faz parte desse universo. Não, nem passa pela minha cabeça tamanha loucura, mesmo porque não tenho formação para tanto, nem tampouco interesse para com o ensino didático. No bolinha, não ensino nada; com ele, na verdade, desaprendo vícios muito chatos, como por exemplo, cozinhar por obrigação.
            Ele também não é um blog única e exclusivamente de receitas de culinária descritas formalmente. Não me sinto obrigada a postar ingredientes e modos de preparo de maneira tradicional: uma folha de louro, cebolas à julienne, e rodelas de calabresa... Primeiro doure as cebolas, depois coloque a calabresa, por último... Não! Definitivamente não curto a forma como as receitas são comumente descritas. Nunca entendi a existência de uma divisão, quase canônica, que separa os ingredientes da realização que lhe dará forma final. É tanta sistematização que quando acabamos de fazer o prato, descobrimos que só trabalhamos e que o processo não teve a menor graça. Em prosa as receitas ficam mais engraçadas - talvez menos eficaz, menos objetivas, é bem verdade - porém, mais gostosas de serem realizadas, mais vivas. Portanto, não se preocupem se o blog soar um tanto experimental; é assim que ele deve ser! Eu gosto de culinária de uma maneira bastante peculiar, já meio fora de moda e um tanto perdida na avalanche dos fast-foods e das franquias gastronômicas.
            Esse delicado blog se refere a antigas lembranças, tenta retomar uma escrita lírica das receitas, como uma boa prosa de fim de tarde. À medida que escrevo sobre as receitas antigas, me lembro dos acontecimentos cotidianos que deram força e filtraram o sangue de minha família. Aqui, falo de amor e sua antiga relação com os alimentos. Afinal, quem não passou longa data dentro de uma cozinha por puro carinho? Sem nenhuma explicação racional, esperou amigos, reuniu a família, agradou ao namorado, mimou os filhotes?
             O bolinha, então, além de muitas receitas, se aventurará com produções de vídeos, postagens de podcasts, e fotografias. Tudo realizado no melhor dos estilos: o simples. Com câmeras digitais bem básicas e câmeras de vídeo nada sofisticadas... Caprichamos mesmo é na produção da receitinha. Vamos atrás de entrevistas inusitadas: que tal conhecer as lembranças e sua relação com a cozinha dos melhores chefs de Pernambuco? Pois bem, tentarei ser recebidas pelos grandes nomes da gastronomia de meu Estado para conversar sobre coisas pequenas, quase irrisórias, não fossem elas o perfeito amálgama que une os pedaços do Ser. Sem as delicadezas da cozinha em família somos como quebra-cabeça sem encaixe... Tudo fica estranho. Assim, digo logo: esse espaço só serve para uma única coisa, fazer festas com os que amamos; a eles um corajoso convite com a mais bela assertiva: “A festins de bravos, bravos vão livremente”.

Mila Targino


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